Alô Pico Ruivo… Alguém à escuta?!

Barreto tem cerca de 45 anos. Veste calças de bombazina castanha, camisa de flanela aos quadrados e sandálias.
- Boa tarde!
A resposta foi um bem disposto sorriso.
- Viva! São do continente, certo?
Pouso a minha mochila e sento-me à sombra a beber um pouco de água.
- Sim somos, e pelo que parece os únicos por estes lados.

O refúgio do Pico Ruivo está empoleirado numa crista, com o oceano a espreitar lá ao fundo, no sopé do cume mais alto da ilha. Merecendo o estatuto inscrito na placa de bronze:
“Refúgio de Montanha do Pico Ruivo – Governo Regional da Madeira”.

Barreto está tão curioso sobre nós, como nós por ele.
Sentados no degrau da porta de entrada, conversamos alegremente. À minha frente dois alemães observam-nos divertidos, como se tentassem adivinhar a conversa.

Barreto guarda o refúgio duas ou três semanas seguidas. Sendo depois substituído pelo seu colega, para depois voltar de novo. Fica lá em cima isolado, todo o tempo sem electricidade. O que significa que não há frigorífico, televisão, comunicações rádio… E como não há frigorífico, a comida resume-se a enlatados e leite à sombra. As notícias ouvem-se num pequeno rádio a pilhas

- As baterias dos paneis solares queimaram há dois anos, nunca mais se arranjou. Eu gosto de estar aqui em cima, é tranquilo. Mas de Inverno fica um pouco mais complicado, especialmente quando começam os trovões.

Apesar de o refúgio estar equipado e possuir as infra-estruturas para albergar um bom número de pessoas, não podemos dormir lá.
Olho para o refúgio, uma casa térrea, com águas furtadas e uma cave. Está impecável! Ao espreitar por uma janela, à minha frente, abre-se uma enorme divisão com camas e um ar abandonado. As únicas divisões abertas são as asseadas casas de banho no exterior e uma sala na entrada.

Por volta das 20h, o sol ainda vai alto, despedimo-nos. Nós vamos arranjar um sítio para montar a tenda e fazer o jantar. Barreto vai para dentro e fecha o refúgio.

Erg Chebbi, Marrocos




"- Para onde vais?
- Não sei... Ainda não decidi...
- Óptimo! Assim é impossível perderes-te."


Sergio Saltão nas dunas de Merzouga
Marrocos